PODE UMA MULHER ESQUECER? ROBERT MURRAY M'CHEYNE

“Porém Sião diz: Já me desamparou o Senhor, e o meu Senhor se esqueceu de mim. Porventura pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria, que não se compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse dele, contudo eu não me esquecerei de ti” (Isaías 49:14-15).
Estas palavras aplicam-se, em primeiro lugar, ao antigo povo de Deus, os Judeus. Antes de sua conversão final, acredito que seus olhos serão abertos para ver o seu pecado e miséria. Eles olharão para aquele a quem traspassaram, e lamentarão. Quando eles ouvem as ofertas gloriosas de misericórdia, eles não serão capazes de acreditar nelas: “Sião dirá: Já me desamparou o Senhor, o meu Deus se esqueceu de mim”. Mas Deus vai responder-lhes que, não obstante todos os seus pecados e aflições passadas, Ele ainda os amará, e será o seu Deus: “Porventura pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria, que não se compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse dele, contudo eu não me esquecerei de ti”. Estas palavras são igualmente verdadeiras para todos os crentes.
I. Investigue nesses momentos em que os próprios crentes pensam estar abandonados.
1. Em tempos de aflição dolorosa. Assim foi com Noemi. Ela havia perdido seu amado marido e seus dois filhos na terra de Moabe. E agora, quando ela voltou, apoiando-se em sua nora, até o monte de Belém, toda a cidade se alvoroçou, e eles disseram: “Não é esta Noemi? Porém ela lhes dizia: Não me chameis Noemi; chamai-me Mara; porque grande amargura me tem dado o Todo-Poderoso. Cheia parti, porém vazia o Senhor me fez tornar; por que pois me chamareis Noemi? O Senhor testifica contra mim, e o Todo-Poderoso me tem feito mal” [Rute 1:19-21]. Assim, foi com Ezequias. Quando o Senhor lhe disse: “Assim diz o SENHOR: Põe em ordem a tua casa, porque morrerás, e não viverás. Então virou Ezequias o seu rosto para a parede, e orou ao Senhor [...] E chorou Ezequias muitíssimo. Como o grou, ou a andorinha, assim eu chilreava, e gemia como a pomba; alçava os meus olhos ao alto; ó Senhor, ando oprimido, fica por meu fiador” [Isaías 38:1-3, 14-15]. Assim com Jó. Quando Jó perdeu seus rebanhos, e seus dez filhos num dia, quando a sua saúde corporal foi destruída, e ele sentou-se entre as cinzas, então, abriu Jó a sua boca, e amaldiçoou o seu dia: “Pereça o dia em que nasci. Por que se dá luz ao miserável, e vida aos amargurados de ânimo? E que Deus quisesse quebrantar-me, e soltasse a sua mão, e me acabasse!” [Jó 3:3,20; 6: 9].
Ah! É uma coisa triste quando a alma enfraquece sob as repreensões de Deus. Elas foram intencionadas a conduzir você mais profundamente a Cristo; a um fruir mais pleno de Deus. Não desmaies quando fores repreendido por Ele. Quando uma alma vem a Cristo, ela espera ser levada para o céu em um caminho verdejante, suave, sem espinhos. Pelo contrário, ela é levada à escuridão; a miséria olha em seu rosto, ou a perda deixa-lhe sem filhos, ou as perseguições amarguram a sua vida; e agora sua alma se lembra do absinto e do fel. Ela esquece o amor e a sabedoria que está lidando com ela; ela diz: “Eu sou aquele homem que viu a aflição, Já me desamparou o Senhor, e o meu Senhor se esqueceu de mim”.
2. Quando eles caem em pecado. Enquanto um crente anda humildemente com o seu Deus, sua alma está em paz. A lâmpada do Senhor brilha sobre sua cabeça. Ele caminha na luz, como Deus está na luz, e o sangue de Jesus Cristo, Seu Filho purifica-o de todo o pecado. Mas no momento em que a incredulidade o atinge, ele é levado ao pecado; como Davi, ele cai muito baixo. Um crente geralmente cai mais baixo do que o mundo; e agora ele cai na escuridão.
Quando Adão caiu, ele estava com medo, e ele escondeu-se de Deus, entre as árvores do jardim, e ele fez uma cobertura de folhas. Ai de mim! Quando um crente cai, ele também tem medo; ele se esconde de Deus. Agora, ele perdeu uma boa consciência; ele teme se encontrar com Deus; ele não ama a casa de oração; o seu coração está cheio de dúvidas. Se eu tenho sido um filho de Deus, Deus me deixaria entregue às concupiscências do meu próprio coração? Ele se recusa a voltar. “Não há esperança; porque amo os estranhos, após eles andarei” [Jeremias 2:25]. Embora Deus nunca tenha sido um deserto, nem uma terra de escuridão para a alma, ainda assim ela diz: “Temos determinado; não viremos mais a ti?” [Jeremias 2:31]. “Já me desamparou o Senhor, e o meu Senhor se esqueceu de mim”. Ah! Este é o mais amargo de todos os tipos de deserção. Se você lançar fora a fé e uma boa consciência, você fará um naufrágio.
3. Em tempo de deserção. Deserção é Deus retirando-se da alma do crente, de modo que a Sua ausência é sentida. O mundo não conhece nada sobre isso, e ainda assim é verdade. Deus tem maneiras de revelar a Si próprio de outra maneira do que ele faz para o mundo: “O segredo do Senhor é com aqueles que o temem; e ele lhes mostrará a sua Aliança” [Salmos 25:14]. Jesus está frequente e pessoalmente com ele. Eles sentem a Sua presença, seus corações ardem dentro deles. Ele, às vezes, sentem que Ele cumpre essa palavra: “Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós” [João 14:18]. O Pai é o seu próprio refúgio. Eles sentem Seus braços eternos debaixo deles, eles sentem Seu olho contemplando-os, sentem o Seu amor sendo derramado sobre eles como um raio de luz do céu. O Espírito Santo está dentro deles. Eles às vezes sentem o seu sopro, às vezes eles sentem que têm o Espírito dentro deles, clamando: “Aba, Pai”. Oh! Este céu sobre a terra, alegria plena, satisfatória. Às vezes agrada a Deus retirar-se da alma, principalmente, eu creio: Primeiro, para nos humilhar ao pó; Segundo, para revelar alguma corrupção não mortificada; Terceiro, para nos conduzir a mais fome por Ele. Tal era a condição de Davi quando ele escreveu o salmo 42: “Direi a Deus, minha rocha: Por que te esqueceste de mim? Por que ando lamentando por causa da opressão do inimigo? Com ferida mortal em meus ossos me afrontam os meus adversários, quando todo dia me dizem: Onde está o teu Deus? Assim como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus!” Ah, muito mais do que a sede natural do cervo ferido pelas correntes de águas, é a sede espiritual da abandonada alma pelo Deus. Tal era o sentimento de Jó, quando ele clamou: “Porque as flechas do Todo Poderoso estão em mim”, e novamente, “Ah! quem me dera ser como eu fui nos meses passados, como nos dias em que Deus me guardava!” [Jó 29:2]. Ele tem uma lembrança amarga de sua alegria passada, um amargo senso de que meios não podem trazer sua alma de volta para o descanso. Tal foi o sentimento da noiva: “De noite, em minha cama, busquei aquele a quem ama a minha alma; busquei-o, e não o achei” (Cânticos 3:1). Ah irmãos, se você alguma vez conheceu algo disto, você saberá o sentimento miserável da distância de Deus, de ter montanhas entre a alma e Ele, implícitas nestas palavras: “Já me desamparou o Senhor, e o meu Senhor se esqueceu de mim”.

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